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Wednesday, August 17, 2005

Os eleitores descontentes. 

-----Mensagem original-----
De: Eleitora Identificada
Para: Primeiro Ministro
Assunto: Que Azar.


Estou tão furiosa que qualquer local aonde possa derramar a minha
revolta por ter sido enganada pelo ar honesto e sincero do Sr. Sócrates
e ter votado nele!
Que burra em ter pensado em poder se acreditar em político! Olha o Lula
também. É tudo uma cambada de interesseiros, mentirosos e, pior que
tudo, burros!
Burros, coitados dos burros! Mas nunca acham novas fórmulas de fazer
progredir Portugal. Chega-se ao ponto de desejar o tempo de Salazar. A
que ponto chegamos!
A.C.

-----Mensagem original-----
Para: Eleitora Identificada
de: Primeiro Ministro
Assunto: Que Azar.


Cara Eleitora,

30 anos de democracia deviam ter ensinado uma coisa aos eleitores. Os políticos eleitos não são melhores do que os outros, são apenas mais sofisticados e um pouco controlados:
- “Sofisticados” porque não tendo que fazer bem pelo menos precisam de parecer que o fazem.
- “Controlados” porque não parecendo convincentemente que estão a fazer o bem, arriscam-se a perder as eleições.

Ora é nas eleições que se põe o problema. Um mau governante pode ser penalizado pelo voto, é verdade, mas e então o que acontece depois? Certo. Sai este e vai para “lá” outro que não é por nada melhor. Este sim é o grande logro da democracia. A Democracia falha porque não existe alternativa. São todos maus. E como são todos maus, a ilusão de poder que se obtém da escolha pelo voto é completamente ofuscada pela inevitabilidade de por no poder um dos poucos inúteis corruptos que se candidatam.

Resta perguntar. Porque é que não há políticos honestos e competentes? Porque é que são todos uma corja? É uma boa pergunta. Tão boa que o problema não é especialmente português. O problema é um pouco de toda o mundo. Os políticos são todos maus em toda a parte. Porque será?

Para complexas questões, respostas simples: Os políticos são maus porque ninguém espera que eles sejam bons.

Se os eleitores esperassem que os políticos fossem bons não faziam coisas como:
Greve, Manifestações, Fugir aos impostos, Guiar depressa; Deixar os filhos na escola sem sequer saber o que estão lá a fazer; Não ler um único jornal; Cuspir para o chão; Ir de carro para o emprego; Lavar os dentes de torneira aberta; Ser funcionário público; Por marquises nas varandas; Não preferir genéricos; Ser militar na reserva; Votar no Valentim Loureiro; Não votar; Ser obeso; Fingir que trabalha; Comer de boca aberta; e ficar calado quando se é mal servido.

Mas toda a gente faz destas coisas, se não todas. Todos esperam que os seus pequenos pecados sejam esquecidos, o que até seria legitimo, não fosse a incoerência de quererem que os outros sejam mais cumpridores que os próprios. Depois admiram-se que os outros sejam até piores que eles próprios. Afinal, por que raio haveria de ser uma pessoa normal da classe média o mais perverso humano? Não seria de esperar que haja gente bem mais perversa por aí? Ou até que a maioria das pessoas seja mais perversa do que nós próprios?

Pois bem. Fique-se com isto. Os políticos são maus porque as pessoas são más. E a única forma de evitar este ciclo vicioso é criar um ciclo virtuoso inverso. Ou seja:
- Comece por exigir mais de si próprio que exige dos outros.
- Exija que os seus bons actos sejam recompensados,
- Exija que os seus maus actos sejam penalizados.
- Deixe de aceitar desculpas, excepções, necessidades especiais ou direitos adquiridos.
- Vote em mim que o resto virá com o tempo.

Atenciosamente
O Primeiro Ministro em pausa filosófico-estival

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