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Monday, September 15, 2003

Uma estratégia para o País 

O eleitor imagine um garfo. Um garfo normal, um dos produtos mais aborrecidos e desinteressantes que existem. Um gafo é um garfo. Não tem nada de saber.

Agora imagine o eleitor que o garfo em questão:
- é Made in germany - como é que seria esse garfo alemão?
- E se o garfo fosse italiano, que tal seria?
- Já agora como é um garfo fabricado no Japão?
...

Na prateleira de cutelaria de um supermercado imaginário encontram-se os seguintes produtos:
- Garfos alemães feitos de uma liga fantástica, que nunca se enferrujam nem entortam. Rijos e fiáveis, um pouco pesados e cansativos
- Os italianos, esses transpiram design. Lindos, ideais para decorar a mesa de jantar, mas só quando se tem visitas, porque são impossíveis de usar todos os dias.
- Os japoneses, se não forem pauzinhos, são pequenos, e com um sensor electrónico que mede a temperatura da comida, não vá o utilizador queimar-se.

Estes países tem uma personalidade que imprimem aos seus produtos e que ajuda a vender a sua produção. São países com uma Unique Selling Proposition que é o seu mais poderoso argumento no comércio externo. Essas USPs derivam das histórias dos países e dão aos produtos desses países vantagens competitivas muito importantes.
O mesmo se aplica a França (luxo)
Aos Estados Unidos (grande e descartável)
Etc.

Os produtos Portugueses não vendem porque Portugal não apresenta nenhuma razão para alguém os comprar. E a oposição prefere assim, preferem passear-se nos seus carros alemães, vestidos com a última moda italiana, jantar em restaurantes franceses e ouvirem-se em aparelhagem japonesas a discursar fatigados que Portugal tem de apostar na inovação, ao mesmo tempo que se protege os sectores tradicionais. Discursos cansados em que se propõe medidas incompatíveis, de reduzir os impostos sem se perder receita ou inovar sem mudar. Nunca se preocupando como é que se consegue essa contradição em termos. Muito menos importante para a Oposição é saber se alguém compra “tecnologia portuguesa” ou se os "sectores tradicionais" são minimamente viáveis. A oposição acha que um garfo português é um mau garfo e prefere nem pensar nisso.

O Governo sabe que os países vendem aqueles produtos ou ideias que mais têm a ver com a sua história. Que o luxo de Versalhes vende o luxo dos cosméticos perfumes e jóias francesas. Que o rigor aborrecido dos alemães resulta em qualidade e rigidez superior. E também sabe que, para um Europeu médio, Portugal não tem história. Ou seja, os Europeus sabem que em Portugal não se passa nada: O clima é bom e tolerante; Não há animais selvagens; Não temos monções, nem tufões; Temos pouco crime e até as nossas revoluções são com flores.

Se os italianos têm o estilo herdado das diversas vagas estéticas que criaram. Os portugueses tem o país onde não acontecem nem coisas excitantes (como em Espanha), nem coisas previsíveis (como na suíça). Em Portugal não acontece nada.
Portugal é um país onde se está bem, onde se vive bem, onde ninguém chateia e onde as coisas andam devagar.

Por isso é que em Portugal se faz móveis confortáveis (e não móveis de design), se faz coisas de cortiça (que são fofinhas), se faz monovolumes (e não carros desportivos). Portugal é desenrascado em sectores confortáveis (como o têxtil-lar) e um desastre em tudo o que for alta tecnologia e modernices.

O primeiro-ministro vai agir e apostar nos sectores que mais têm a ver com a nossa herança. Portugal será o país do conforto.

Se Portugal for o país do conforto, pode vender coisas como:
- Turismo residencial de terceira idade (a exemplo da Florida, pôr os reformados da Europa ao sol à custa das seguranças sociais europeias - A maior industria da Flórida são os condomínios para reformados, é uma industria em expansão e a Flórida é o 2º estado mais rico dos EUA).
Com os reformados europeus vêm os filhos e netos de férias e com isso mais turismo e mais consumo.

O Conforto é uma ideia que se aplica a inúmeros produtos, Se Portugal se assumir como o país do conforto pode vender um pouco de tudo, desde que seja calmo e ponderado. Até vinho também, mas nada de chateau qq coisa a 100 contos a garrafa, vinho para beber à refeição, em casa, todos os dias (um mercado bem maior) porque o vinho português ajuda uma pessoa a sentir-se descansado é confortável (não importa se é verdade, desde que as pessoas acreditem) um vinho que nos deixa contemplativos e não um que nos dá pica para ir dançar (dançar e paixão, “movida” é coisa de espanhol).

"Portugal Confortável" vende calçado, muito, mas confortável, daquele que não estraga os pés, pode ser simples e rude, mas anda bem, assenta no pé.

"Portugal Confortável" vende roupa, do tipo desportivo casual, roupa para ir para a esplanada e para ir passear à beira mar, nada de roupa de moda que isso é para os italianos

Carros, só familiares.

Electrodomésticos, modelos silenciosos e discretos

Teclados de computador que sejam muito ergonómicos

Etc.

Tudo o que for confortável, porque se encaixa com a nossa herança e cuja promoção e desenvolvimento são financiados com o dinheiro das reformas dos cada vez mais velhos europeus.
É que se recebermos 100.000 reformados (o que não é nada, só a Alemanha deve ter entre 10 a 20 milhões de reformados) aumentamos 5% do PIB.
Na Europa do norte uma reforma média vale 300 contos por mês:
100.000*12meses*300= 360 milhões de contos de receita ano = 5% do PIB!

E se vier um milhão de reformados?! Alemães, Ingleses, Suecos, etc. Cobria-se todas as importações portuguesas!

A esse dinheiro (que está disponível porque não existe ninguém a apostar a sério neste cluster) juntava-se todo o efeito de contágio dos produtos nacionais. Os novos residentes comiam, bebiam e usavam as nossas coisas e depois diriam aos seus filhos que eram boas. Os filhos, sabendo que Portugal é o país do Conforto, comprariam português sempre que o conforto fosse o atributo mais importante.

Medidas concretas para fixar reformados:
- Acordos de expatriação/atendimento no serviço nacional de saúde a todos os cidadãos da UE.
- Lotear as zonas semi abandonadas (aldeias do interior) para construção de casas para reformados.
- Acordos bilaterais entre sistemas de segurança social e empreendimentos (porque os residentes gostam de estar com os seus). Vender junto de fundos de pensões pacotes de transporte + habitação + assistência. Ingleses para o vale do Douro, Alemães para o Alentejo, Suecos para as Beiras.

Este é só o começo, para transformar Portugal no país do conforto, são necessárias muitas escolhas, implica redireccionar muito investimento, exige esquecer muitos programas, tem de se ignorar muitas queixas. Não cabe num programa eleitoral.


Vote em mim – Finalmente uma ideia para Portugal – “o país do conforto”. Um ideia onde Portugal pode competir (não é como na tecnologia), que não é uma ideia de mão-de-obra barata (como nas Filipinas) e que além de ser aplicável a imensos sectores (curiosamente boa parte daqueles em que Portugal até se safa), pode ser aplicado a sério num sector em expansão e que rende milhões. O turismo residencial de terceira idade

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