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Tuesday, February 10, 2004

Se não quer saber a resposta, não pergunte. 

Hoje, no convento do beato, está reunido o quem é quem empresarial português para discutir como salvar Portugal. Se está a ler isto, paciência, não foi desta que o eleitor chegou às elites, mais uma vez terá de ficar de fora.

O Governo, não querendo interferir nas cogitações da sociedade civil, olha com alguma curiosidade paternalista para este encontro. São provavelmente bem intencionados, mas saberão porque é que estão reunidos?

Para orientar o debate, o Primeiro Ministro sugere a descoberta de um dos maiores historiadores económicos David S. Landes e a sua bíblia do desenvolvimento. A “riqueza e pobreza das nações”.

Se alguma coisa a história nos ensinou, foi que a riqueza de um país não é determinada pela riqueza mineral ou agrícola (compare-se a Suíça com Angola), também não depende da situação geográfica (compare-se o Panamá com a Islândia). Segundo David S. Landes a riqueza dos povos depende de três coisas: do Mérito, da Justiça e da Ética.
- Mérito, quer dizer que um povo será tão mais rico quanto mais recompensar os seus melhores. Para isso tem de haver menos privilégios e mais mobilidade social. Tem de haver concorrência entre as instituições e as pessoas e não corporativismo. Tem de haver incentivo, recompensa pelo esforço individual
- Justiça, é o que permite que o Mérito funcione. As recompensas e os castigos têm de advir da aplicação de regras comummente aceites e claras, não pode vir de favores, nem de exploração e muito menos de desigualdade.
- Ética, é algo que só existe dentro de cada pessoa. É aquilo que distingue os que face à adversidade a procuram ultrapassar, daqueles que baixam os braços e culpam o sistema. Não é um engano, Ética, é fazer a “coisa certa” por isso passa por “fazer”, e a falta de ética dos portugueses é mais preguiçosa do que incompetente.

Estes três factores explicam muito claramente porque é que Portugal não é mais rico:
O Mérito é pouco, esquivo, condicional. As grandes empresas sentam-se sobre os seus monopólios, os bancos fazem panelinha, os horários são controlados, o estado não presta contas, as regras são imobilistas, os empregados desconfiam da avaliação, o emprego é para a vida.
A Justiça tarda quando não falha. Os tribunais não funcionam, não são responsáveis pelo seu não funcionamento, e por isso, na sociedade portuguesa, quem recorre à justiça é só para prejudicar, nunca é para corrigir. Em Portugal, ninguém que esteja de boa fé, recorre a um tribunal, é porque a Justiça não serve.
Mas é a Ética, cultural e entranhada, é que acaba por explicar porque é que somos, em Portugal, os mais ricos dos pobres ou os mais pobres dos ricos. É porque o Português têm uma boa noção do seu dever, daquilo que é certo, do que deve fazer. Mas não faz. Os proverbiais brandos costumes, racismo ligeiro, colonização doce, não são mais do que demonstrações que nem na perfídia do ouro os portugueses se excedem. Terão melhor fundo que os alemães? Não de forma alguma, mas um português nunca criaria um campo de concentração porque isso dá demasiado trabalho.

Então o que pode ser feito, que compromisso pode o Primeiro Ministro assumir com o país?
- Pelo Mérito, a solução é simples, dolorosa mas simples. Liberalização, concorrência, autonomia, auto-financiamento. Os direitos adquiridos são as barreiras que se interpõem ao mérito. Por isso, cada instituição, cada pessoa, terá de concorrer, terá de se esforçar e terá as ferramentas para isso. Mais liberdades e menos garantias. Para cada direito um dever.
- A Justiça, vem de arrasto com o Mérito. Quem decide é solidário com a decisão, logo um tribunal que não decide não recebe, um tribunal que decidiu mal é culpado.
- Já a Ética, depende de cada um, por isso, o eleitor têm além do governo, o país que merece, Vote em mim, mereça um país melhor.

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