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Thursday, June 09, 2005

Correio dos Eleitores 

-----Mensagem original-----
De: Eleitor Identificado
Enviada: Mon, 30 May 2005 14:26:36 +0000
Para: Primeiro Ministro
Assunto: " O arrependimento"



Exm.º Senhor Primeiro Ministro

Tenho quase 50 anos e é a primeira vez que me dirijo ao Sr. Primeiro-Ministro do meu país. Poderia tê-lo feito por alguma feliz razão, mas a verdade é que o sentimento que me move é muito negativo.
E mais significativo ainda é que, pela primeira vez na minha vida pessoal e profissional, o arrependimento se instalou na minha alma.
Sou professora há 30 anos, Presidente do Conselho Executivo da Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos, em São Brás de Alportel, há 11 anos e não me arrependo de ...
... ter trabalhado em cada dia o dobro do exigido
... ter deixado, em cada ano, muitos dias de férias por gozar
... ter gasto manhãs, tardes, serões e madrugadas para fazer da Escola EB 2,3 Poeta Bernardo Passos uma instituição com boas referências (pode V. Ex.ª investigar)
... ter colocado energias sem limite na motivação de todos os colaboradores
... de ter sempre defendido e lutado pela qualidade da escola pública
... até de ter dedicado menos tempo aos meus filhos pela causa pública.
Arrependo-me, sabe de quê, Sr. Primeiro-Ministro? De ter votado nas últimas eleições legislativas como fiz em todos os actos eleitorais deste país democrático.
Porque não se pode pedir a um funcionário público com 30 anos de serviço que trabalhe mais 16. E também não é lícito pedir que se aposente antecipadamente, por exemplo com 36 anos de serviço, com 45 % de redução na remuneração!
Concentrando-me exclusivamente nesta medida anunciada - o aumento para 65 anos da idade de aposentação:
Sr. Primeiro-Ministro, que desempenho têm pessoas nesta fase da vida?
O trabalho dos enfermeiros, dos professores, das forças de segurança será equivalente a turismo sénior?
O Sr. deseja para os próximos anos uma máquina pública que não funcione por desgaste dos seus recursos humanos? Esperança de vida não é sinónimo de saúde e qualidade de vida!
E os jovens não vão renovar esse sistema: por um lado, porque não têm vaga para entrar, por outro, porque têm espírito prático e continuarão a realizar os seus mestrados e complementos de formação e a depender economicamente dos pais até aos 30 anos (iniciarão então a sua longa carreira até aos 65).
Teremos, num futuro próximo, um retrato amarelecido da função pública e uma resposta dos serviços desajustada da modernidade.
Então os serviços privados substituirão o serviço público e o senhor, responsável pela situação, regozijar-se-á com a missão cumprida.
Sr. Primeiro-Ministro, mostre as qualidades que lhe atribuem e com os especialistas das finanças encontre outra solução para o défice.
Consegue avaliar o nível de desmotivação, de desencanto, de revolta até, dos funcionários públicos, neste momento, sobretudo os mais velhos?
Sr. Primeiro-Ministro, só ainda não me arrependo de ser mandatária (há quatro anos e no presente) da candidatura autárquica do Eng. António Eusébio do PS em São Brás de Alportel. Sabe porquê? Exclusivamente porque ele tem muitas qualidades!

Com os melhores cumprimentos,


-----Mensagem original-----
Para: Eleitor Identificado
de: Primeiro Ministro
Assunto: RE: " O arrependimento"


Cara Eleitora,

Pela sua descrição parece ser um exemplo de uma vítima de perversão que é o funcionalismo público. Diz-me que em toda a sua carreira se empenhou, e eu acredito, mas tenho de perguntar. Porque é que se empenhou? O que é que ganhou com isso? Certamente que na sua profissão não lhe faltam exemplos de pessoas, com a mesma função no estado, que nunca fizeram um mínimo esforço e que sem nunca merecer o ordenado, mesmo assim recebem o mesmo que a eleitora ao fim do mês.

Esta é a perversão de um sistema em que todos são retribuídos por igual. Neste sistema de função pública todos os funcionários com a mesma carreira (quer trabalhem, quer roubem) recebem por igual, e neste sistema, todos se reformam por igual, as regras são iguais para todos. Como tal, paga-se pela média. E é quem é melhor do que a média que sai altamente penalizado.

Ora, em termos médios, os funcionários públicos são demasiado caros para o trabalho que produzem (daí vem o deficit) por isso, em termos médios, têm todos os funcionários públicos de passar a receber menos para que haja dinheiro para lhes pagar.

Pois claro que está arrependida. Se não tivesse trabalhado tanto, a exemplo do que faz a generalidade dos 900.000 funcionários públicos, não teria do que se queixar, estava já reformada desde o dia em que entrou para o quadro. Sim, a média do funcionário público produz tão pouco que é equivalente a estar reformado desde o primeiro dia.
Mas a eleitora esforçou-se, e como se esforçou, não vê, nem nunca verá, a retribuição do seu esforço e pior, pagará a conta pela tabela.

Estamos assim num ponto em que, cara eleitora podemos fazer uma de duas coisas:
1) Reduzir por igual os benefícios de todos os funcionários públicos (mantendo as carreiras e as progressões por antiguidade).
2) Acabar com a administração pública, entregando todos os trabalhos a empresas concorrenciais que remuneram os seus trabalhadores como lhes parecer justo.

Diga-nos o que prefere, por favor:
- Quer ver reduzido o seu rendimento por igual com todos os outros funcionários, até que em média recebem tanto quanto produzem (uma redução de cerca de 25% no rendimento de todos, seja no acesso à reforma seja noutras regalias).
Ou
- Quer que a sua escola seja transformada numa empresa privada que é paga pelo nº de alunos que aprova em exames nacionais e distribui o dinheiro pelos profissionais (as boas escolas terão bons alunos que passam nos exames e têm dinheiro para pagar bons ordenados e as más escolas vão à falência.

A escolha é sua. Aguardo a vossa contribuição
Atenciosamente
O Primeiro Ministro

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